por: Elena Vosnaki
"Fresco e cortante como grama cortada, explode com o aroma verde do gálbano, um óleo extraído de uma erva iraniana," escreveu Michael Edwards acerca de Vent Vert de Balmain, um dos protótipos das "fragrâncias verdes" que surgiu na perfumaria em 1945, composto pela perfumista pioneira Germaine Cellier. "Mas os acordes de Vent Vert provaram ser demasiado extremistas para serem populares," conclui ele.
Verde ... uma palavra, mil imagens.
Entre todas as famílias de fragrâncias, apenas as "verdes" são classificadas segundo uma conotação visual, especificamente uma cor. Poderíamos argumentar que a cor desempenha um papel importante na percepção das fragrâncias: "noir" ou negro conota um sentido de perigo noturno, de objetos invulgares e de preço incalculável ou sedução; os orientais especiados são rotineiramente embalados em caixas vermelhas ou castanhas que evocam os materiais associados com as suas maquilhagens e os exóticos artefactos do Leste e texteis nos quais eles se inspiram; os aromas marinhos vâm em frascos azuis que relembram a cor do mar que lhes serve de referência.
Mas o verde é uma categoria em si porque o cheiro corresponde categoricamente de tal maneira que não há outra forma de "visualizá-lo": folhas quebradas, grama aparada, caules tenros retendo o orvalho, jovens rebentos lutando pelo crescimento, agulhas de pinheiro frescas no ar da floresta ... há algo nas fragrâncias verdes que faz com que o ser urbano mais convicto sinta o chamamento da natureza, dos espaços ao ar livre e da liberdade de uma existência vivida de forma intemporal, em uníssono com a Terra. Hoje em, dia com a ascenção do Movimento Verde, estes aromas parecer ser particularmente atuais.
Os aromas verdes não são necessariamente todos do tipo "terra mãe", cantando "om," vestidos em roupas feitas à mão. Eles podem ser refrescantes, animados, até mesmo atrevidos! Etiquette Bleue de Parfums d'Orsay é um perfume vivaz e cítrico que é sublinhado por verduras para resultar numa ambiência herbácea divertida e clássica. O de Lancome é tão fresco como o amanhã, com a sua embalagem geométrica (nas palavras de Susan Irvine "reminiscente de papel de parede dos anos 1960") denotando uma sensibilidade moderna; notas de manjericão, petitgrain, rosmaninho, hamamélis e vetiver dão um caráter decididamente verde às notas hesperídicas florais que falariam de uma simples colónia. As fragrâncias verdes pode também tender a serem mais sofisticadas, pegando facetas das classificações fougere e chypre: Koto de Shiseido, Eau Parfumee au The Vert de Bvlgari, Safari by Ralph Lauren, Niki de Saint Phalle e Eau Sauvage de Dior são todos eles exemplares à sua maneira e todos eles têm elementos "verdes" perceptíveis.
Certos ingredientes naturalmente sacodem a escada da verdura: o gálbano, já mencionado em relação a Vent Vert, mas também tendo um papel "verde" em Chanel No.19, um floral verde; as agulhas de pinheiro (haverá outra forma de pensar no clássico italiano Pino Silvestre sem ser como intensamente verde?); a grama cortada, folhas de limoeiro, petitgrain e a eau de brouts (um subproduto da destilação da árvore Citrus aurantium), as folhas de violeta (em oposição às flores de violeta), as folhas de menta, a hortelã, a angélica, o absinto, todas estas notas emprestam aquele toque esmeralda que torna uma composição ao mesmo tempo brilhante e fresca.
Talvez o caso mais enigmático de todos seja as fragrâncias de vetiver. Elas cheiram a "verde" e vêm invariavelmente em caixas verdes. Mas a essência pura em si é castanha escura, o seu perfil olfativo é um aroma amadeirado; certamente fresco, mas muito mais "terroso" do que de folhagem, apesar de o vetiver seja uma erva exótica, como o gálbano.
A solução para o puzzle é simples, confirmando que muito daquilo que tomamos como certo vem de razões outras que não derivam das olfativas: o primeiro vetiver assumido no mercado foi Carven Vetiver em 1957—apesar de a Creed insistir que o seu apareceu em 1948—e a embalagem era verde claro. Daí em diante, todos os vetivers, Guerlain, Givenchy e etc se vestiram com este "fato" verde!
Os perfumes verdes podem ser considerados unisexo, ainda que muitas mulheres os considerem mais masculinos ou desportivos. Mas pensemos na supermodelo "The Body" Elle McPherson, uma lenda dos anos 1980 e início dos 1990 e ainda uma força poderosa: a sua fragrância pessoal tem sido sempre o masculino da Guerlain Vetiver. Pensemos em Sycomore de Chanel também: o conceito era oferecer um perfume classicamente classificado como masculino (um vetiver) para mulheres compradoras da sua linha Les Exclusifs. Ou consideremos que a super-sexy Christina Hendricks (famosa pelo seriado Mad Men) é uma fã do verde suave de Premier Figuier de L'Artisan Parfumeur! O que me faz chegar a um outro assunto final.
Os perfumes de figo em particular, como o acima mencionado Premier Figuier,Philosykos, Figue Amere ou A La Figue entre tantos outros, são considerados "verdes" por causa da verdura das suas folhas, a sombra da árvore, a seiva e as cascas verdes que são recreadas na perfumaria, não pelo cheiro do fruto; mas tecnicamente estes aromas pertencem à família dos amadeirados. O verde é muito relativo. E mais do que qualquer outra subcategoria ele tem a ver com o nosso sentido da visão, assim como com as nossas associações percetivas, tanto quanto tem a ver com o nosso sentido do cheiro ...
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