segunda-feira, 16 de junho de 2014

Nada é Novo


Pode parecer surpreendente, mas nunca nos lembramos da história da indústria da perfumaria. De cada vez que pensamos nos seus novos aspectos e mudanças, sentimos pena ou alegria como se fosse a primeira vez. Eu não me importo de expressar emoções mas não vale a pena tomar isto demasiado a sério e ficar com mau génio. Vamos então conferir o que é bom e o que é mau.

"As fragrâncias estão cada vez mais caras," anunciam os websites e blogues de perfumes. No início do século apenas perfumes de nicho poderiam custar $100 US e isso já seria um preço alto, o topo da exclusividade. Hoje em dia USD $100 por uma fragrância não é nada. O preço médio para uma fragrância de uma casa de nicho é cerca de EUR 200 (USD $260). Para quê? Para tristes frascos e embalagens uniformizadas?
 
Para responder a isto, citarei uma passagem: “Se eu fosse perfumista, daria tudo pelo perfume, não pela embalagem…e para fazer uma fragrância impossível de imitar, faria com que ele fosse o mais caro possível”. Quem poderia dizer isto? Evidentemente o progenitor de um conceito nicho. François Coty disse que o preço de um bom perfume num bom frasco deveria ser “comprovado e razoável.” Não é surpreendente que estas mesmas palavras tenham sido pronunciadas nos anos 1920 por Coco Chanel? Chanel começou como uma marca de perfumes de nicho e apenas a distribuição levada a cabo pelos Wertheimer brothers levou a perfumaria Chanel para o segmento de luxo, embora os preços de Chanel fossem superiores aos de Coty. Daí que a mesma ideia—de um possível preço mais alto por um perfume—tenha sido desenvolvida por Jean Patou e Elsa Maxwell com a mais preciosa fragrância do mundo—Joy de Jean Patou. É claro que também há o fator inflação. Em 1924 um frasco pequeno de Chanel №5começava nos USD $1.75; hoje o frasco de 7.5 ml custa USD $120 …

"Estamos fartos de perfumes baseados no oud que todas as marcas estão a lançar," dizem os bloggers de perfume, revoltados. "Não será possível criar algo mais interessante?"
 
Oh, sim. As tendências mudam sempre com o cansaço e de forma abrupta. Já houve fragrâncias de foram desde o amor à repulsa na segunda metade do século XIX; perfumes de violeta no final do século XIX / início do século XX, juntamente com as iononas; depois de 1917, os chypres; as fragrâncias aldeídicas, depois de 1921; o os perfumes femininos de lírio do vale do pós-guerra e os masculinos de vetiver; as fragrâncias unisexo de ozono no final do século XX - todos estes são exemplos de tendências do passado.

"Somos atacados diariamente por cheiros fortes! Já chega!" são as exclamações dos EUA e do Canada. "Vamos parar com a invasão de perfume na vida privada. Vamos proibir o uso de perfumes em espaços públicos!"
 
Comparem com a citação: “Almíscar, âmbar, flor de laranjeira, tuberosa e outros cheiros fortes estão totalmente proibidos.” Este era um manual francês de regras de etiqueta para mulheres (Manual des Dames) por Madame Celnart, publicado em 1833. Nesta mesma era, as mulheres que usassem perfumes fortes eram não só criticadas mas também consideradas como concubinas.

A beleza dos ingredientes naturais e a dureza dos sintéticos foi discutida não só no século XXI.
 
Tais discussões começaram em meados do século XIX quando os materiais sintéticos para fragrâncias apareceram. Todas as metérias naturais eram benvindas e todas as químicas eram amaldiçoadas—incluindo Fougere Royale de Houbigant (note-se que ninguém o chamou de Coumarin Royale; as moléculas sintéticas não eram sequer mencionadas na comunicação de fragrâncias, como são hoje). Considerava-se que as verdadeiras senhoras eram as belas flores; outros aromas eram “para artistas e poetas qualidades morais ambíguas,” anunciava Collette Fellow ni livro Guerlain de 1889.

Os argumentos acerca dos esquemas de importação e o “mercado negro” onde os perfumes são mais baratos mas a qualidade não pode ser garantida começaram há muito tempo.
 
No final do século XIX havia um mercado de perfumes em todos os bairros de Paris. Neles era possível comprar um perfume duas ou três vezes mais barato do que nas boutiques de luxo da Rue de la Paix e na Place Vendôme. As diferenças de preço eram explicadas pelos preços das rendas e pelos salários dos empregados. A diferenciação entre aristocracia e a plebe era também muito importante, pois as pessoas desfavorecidas nunca poderiam pagar um preço "aristocrático" por um perfume. Praticamente tudo tem correspondência no passado.

Escândalos com perfumistas? Racismo e os processos de Jean-Paul Guerlain e John Galliano?
 
Um dos pais da perfumaria moderna—François Coty—conhecido pelas suas posições de extrema-direira, criou várias organizações fascistas em França, escreveu e publicou artigos anti-semitas no seu jornal “Friend of the Nation” e foi condenado por isso em 1933.

Lamentos pelo facto de tudo hoje em dia ser aromatizado, incluindo o papel higiénico.
 
Nos anos 1930, sabonetes e champus, protetores solares e detergentes eram aromatizados. Não há necessidade de referir a eau de toilette—uma invenção dos "anos de crise" com baixa concentração.

Perfumes unisexo?
 
Tais fragrâncias apareceram nos anos 1920. Por exemplo, o cheiro de praia inspirado em óleo bronzeador—Eau Chaldee ou o aroma de um clube de golfe para homens e mulheres, Eau de Sien, ambos criados por Henri Almeras para Jean Patou. A propósito, o segundo tornou-se no pai de um enorme clube de fragrâncias sport e, mais frequentemente agora, flankers.

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