segunda-feira, 16 de junho de 2014

Esqueletos Perfumados no Seu Armário


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Recentemente me deparei com um conceito interessante—"música no armário." Esta música é para ouvir sozinho, sem testemunhas, devido ao medo do ridículo. Acho que esta designação poderia ser aplicada a todos os ramos da arte, incluindo a perfumaria, claro. Sinceramente, todos nós temos esqueletos no armário. Eu vos encorajo a revelar alguns deles no que diz respeito aos perfumes. Talvez isso até vos ajude a livrarem-se desse peso. Quero dedicar este artigo aos nossos "perfumes no armário" que tememos usar em público. E estou pronto para ser o primeiro.
Nuit de Noel Caron – por mais que eu ame este perfume mágico, tenho sempre medo de usá-lo na minha pele em público. Este é uma obra-prima do perfume, uma jóia antiga, tão estranha quanto atraente hoje em dia, tal como um velho sabonete de gerânio. É festivo e eterno como uma rosa desabrochada, sedutor como uma mistura oriental de sândalo, baunilha e flores tropicais.
O armário não é o local justo para este perfume voluptuoso. Ele precisa brilhar sobre um casaco muito caro, entrar em casas luxuosas, fascinar as mulheres e seduzir os homens em bailes e festas da sociedade. Aqui no meu armário, ele envelhece tristemente sem o reconhecimento de ninguém sem ser eu. Mas a minha humilde atenção não chega para este chypre rico e caprichoso.

Outro perfume dentro do meu armário, vítima de insuperável contradição de gênero é Nuit de Tubereuse de L`Artisan Parfumeur, brilhante e ousado.
Nuit de Tubereuse é um amadeirado floral com um belo e cintilante coração frutado-floral, um estimulante acorde de pimenta e um teatral e histrionico sussurro de Iso E Super ("cheguem mais perto"). Esta tuberosa é tão chegada a mim, pois cresci na Sibéria, e como se tivéssemos crescido juntos, eu sinto este toque de abeto nas suas pétalas. Mas eu simplesmente não o consigo usar. É demasiado feminino para eu sequer pensar em usá-lo em público. Me atrevo a usá-lo apenas em casa para mim próprio.
A mesma razão tem mantido trancado o meu amado Loretta Tableaux de Parfums Andy Tauer—Eu chego perto dele, cheiro e vou embora. "Que mulher!" é a exclamação que me passa na mente.
Para deixar de lado esta questão de género, posso dizer abertamente que os clássicos MitsoukoVol de NuitAromatics Elixir, e o mais recente Le Temps d`Une Fete Parfums Nicolai e Immortelle Atelier Boheme, eu uso em público sem qualquer hesitação. Eu também tenho mas não uso Shalimar de Guerlain e Joy de Jean Patou, apenas porque não os amo tanto assim, ainda que os respeite pelo lugar que ocupam na perfumaria e gosto de os cheirar de vez em quando, especialmente se preciso de me relembrar do seu cheiro para o meu trabalho. Mas não é uma paixão secreta, apenas respeito pelos clássicos.
O maravilsoso e suave abaunilhado Spiritueuse Double Vanille de Guerlain, com rum, ylang-ylang, cedro e incenso, é impossível para mim usar em público. Não se adequa à minha personalidade. O meu rosto se abre num grande sorriso e eu começo a olhar nos olhos de qualquer estranho como se ele/ela fossem um grande amigo que eu não vejo há muito. Ele foi trancado no armário por duas razões: como uma jóia e para o acariciar. Ele é tão suave que é muito difícil cheirá-lo quando estou na rua—o vento levaria a maior parte antes de chegar ao meu nariz, por isso eu o guardo em casa para o desfrutar sozinho. As minhas últimas gotas de Sous le Vent de Guerlain estão esperando o tempo quente, por isso por agora são vizinhas do Vanille.
Outra razão para trancar um perfume no armário é o facto de o perfume não estar mais "in", ser demasiado simpres para hoje e dia, ou ser de baixa qualidade. Comparando-o a roupa barata e antiquada, é demasiado mau para usar até em casa.
Eu sei que já ninguém prestaria atenção a alguém usando esta coisa estranha, mas eu não consigo usar Café-Café Puro pour homme ou o mel com especiarias Chemistry for Men de Clinique, nem para trabalhar na minha casa de férias de verão.
Neste grupo estão erros da minha juventude (Café-Café Puro pour homme), e mega-sucessos do passado (Kenzo pour homme). Estes perfumes já não são populares nem atraentes, nem conseguiram até agora atingir o status de perfumes vintage perfumes. A ressaca depois do seu grande sucesso ainda não terminou. Lembram-se de quanto tempo passou pela lambada até que ela voltou a ser mais ou menos popular devido ao seu remix? Lembram-se das calças apertadas ou das cores fluorescentes? Elas foram esquecidas durante tantos anos pela mesma razão.
No meu armário eu tenho alguns êxitos antigos: CK One e Escape for men, alguns dos primeiros perfumes de Karl LagerfeldDrakkar Noir, alguns CartierIssey Miyake eKenzo. No armário de um amante de perfumes estão escondidas muitas boas memórias do passado. Algumas delas eu relembro só de olhar para o frasco.
Os novos perfumes que saturaram o mercado em anos recentes são também a razão de outros aromas serem adicionados à minha coleção de "perfumes no armário". Este texto é a minha confissão, e também um desafio para vocês darem uma volta nos seus armários e encontrarem algumas antigas paixões para depois nos contarem os vossos desejos perfumados proibidos.
Deixem que um raio de sol entre nas profundezas escuras dos vossos armários! 

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