por: Miguel Matos
Como crítico de perfumes, e com tantos novos e excitantes perfumes que eu tenho a oportunidade de cheirar, vocês poderiam esperar que eu fosse um esnobe. Eu poderia apenas vaporizar minha pele com os mais raros e os mais caros perfumes de nicho e desdenhar as fragrâncias baratas de supermercado. Mas não. Tenho um imenso prazer em descobrir que belas preciosidades podem custar tão pouco como 10 euros (100ml) como este maravilhoso perfume oriental amadeirado chamado Sultane L'Eau Fatale de Jeanne Arthes. Quem disse que temos de pagar fortunas por um bom perfume?
Fui apresentado a este frasco azul em Outubro na exposição TFWA em Cannes, mas foi apenas neste mês que esta edição chegou ao mercado. Tenho usado ele e sempre que o coloco, não consigo evitar a surpresa. Seu cheiro vale dez vezes o seu preço e me faz lembrar alguns gloriosos orientais vintage do passado. Para vos dizer mais ou menos como é Sultane L'Eau Fatale, deixem que vos desenhe um mapa de referências: pequem no cominho em Kenzo Jungle Elephant. Agora misturem com a canela, âmbar e resinas em Givenchy Organza Indecence. Depois coloquem sobre um fundo de sândalo de Mysore como o de Guerlain Samsara. Dilua um pouco para obter uma silagem mais suave e inclua alguns raios de sol sobre a pele aquecida. Consegue ter uma ideia?
Sultane L'Eau Fatale começa com uma introdução suave, arejada e doce de canela e uma pitada de especiarias. A marca fala em cominho, mas não tenha medo. Todo o cominho em Sultane L'eau Fatale está presente como um efeito sensual e não poderá incomodar nem o mais sensível dos narizes. A especiaria principal aqui é a canela. Não a canela de confeitaria, mas a amadeirada. É um profundo perfume oriental amadeirado no qual o caráter leitoso do sândalo é evidente desde o primeiro minuto. O coração floral é forte em Ylang Ylang com uma grande dose de salicilatos para dar o tom solar da fragrância. Ha um elemento de pele aquecida para aumentar o fator sexy, aliado a um toque carnal que vem do jasmim. Mas a base de Sultane L'Eau Fatale é dominante do topo ao fundo, e o desenvolvimento atinge este estádio muito rapidamente. As madeiras brilham, enquanto ainda conseguimos ter o calor da canela.
Não consigo deixar de pensar em Organza Indecence quando uso Sultane. Este é muito mais simples mas a onda é mais ou menos a mesma. Sultane L'Eau Fatale é muito mais delicado em silagem e projeção mas por 10 euros não se pode pedir mais (parece dez vezes mais caro). O que permanece sobre a pele depois da secagem é um perfume amadeirado, condimentado e solar que se desenvolve de forma discreta, mas ainda se sente seu sedutor aroma ocasionalmente após nove horas.
Eu adoro este perfume absolutamente acessível e dou meus parabens a Jeanne Arthes por criar esta admirável composição, especialmente quando é tão raro obter tal riqueza em perfumes muito mais caros. Se está procurando um bom oriental com potencial unisex e um comportamento contemporâneo educado (apesar dos ingredientes sintéticos), não precisa abrir falência. É uma pena que o frasco seja tão pobre, apesar de a tampa ser bonita e pesada. Gostaria de vos convencer a pelo menos experimentar este perfume e partilhar suas opiniões.
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