terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Rush. Uma Lenda.

por: Juliett Ptoyan

Era, é agora e será sempre um longo lenço vermelho, caindo dos ombros, que não deixa de atrair as atenções - e atrai mais do que os diamantes, peles, carros e outras marcas de glamour do início dos anos 2000. De fato, é certamente o lenço, o batom vermelho e os stilettos - tudo o considerávamos 'o máximo' há 20 anos, e que continua sendo uma alegria para os olhos atualmente.
Ele apareceu mesmo no tempo certo: o último ano dos perigosos anos 90, o primeiro projeto de perfumaria Gucci sob a direção de Tom Ford, dois anos após o assassinato de Maurizio Gucci - tudo no tempo certo; nunca seria aceite a meio dos anos 80 ou no sensaborão meio dos anos noventa.
A melhor altura para ele foi os anos acelerados 2000 caregados de acetato que nos trouxeram TumulteCinema,Amor AmorFlower by Kenzo e outros líquidos similares - contrastantes, brilhantes, ferozes, que nos tornam mais interessantes do que aquilo que somos.
Há 15 anos ele me enganou, aparecendo numa vulgar festa de família emanando do corpo de uma mulher que, para mim, tinha sempre representado o standard da beleza nobre: brilhante, mas moderna e organizada. Pareceu-me a perfeita silagem de seu eu verdadeiro, sua própria natureza; imaginar algo melhor para ela seria impossível e desnecesário; era uma absoluta delícia. Durante todos estes anos ele voltou para mim, como que seduzindo e insinuando-se - eu precisei de tempo para aprender sua linguagem; precisei de crescer para ele - apenas para ter uma oportunidade de avaliá-lo não do ponto de vista de uma criança exaltada que acaba de encontrar o mais precioso perfume de sempre.
Sua embalagem é imediatamente reconhecível, e após 17 anos tornou-se quase neutro aos olhos de uma maníaca da perfumaria como eu; ele é ideal em termos da transmissão do coração em seu conteúdo: Rush é uma cor pura, fogo de artifício; uma explosão de luz. A caixa vermelha de vinil é uma cassete de vídeo para adultos; uma caixa de fósforos com fogo dentro; uma caixa de comprimidos que contém não vitaminas mas excitantes [Rush é também o nome dos populares poppers dos anos 80]. Ford, que estudou arquitetura, disse uma vez que o frasco refletia suas ambições profissionais.
Rush torna-se ainda mais interessante quando conhecemos o seu background: as coleções de moda da Gucci com um minimalismo aggressivo e sexy, o color block e a ênfase na textura; o toque de Tom Ford que, no geral, trouxe a marca de novo à vida; é claro, a cultura pop (Eros Ramazzotti, Ricky Martin com Livin' la Vida Loca; Enrique Iglesias, Britney Spears, as acid raves); finalmente, não podemos esquecer as tendências da perfumaria no final dos anos 90: as flores ricas, a saturação extra, os perfumistas brincando com o frescor.
 
O Vermelho era um reflexo desta cultura - e, é claro, um dos mais bizarros e fascinantes refleos, devo dizer: é como um caleidoscópio sólido, que se torna ainda mais interessante; cada peça de vidro tem um degradé, sua cor muda. O segredo está em sua profundidade, cor e riqueza, que ninguém (incluindo Michel Almairac)consegue repetir. E sua cor, profundidade e brilho, são as razões principais para sua popularidade irrealnos anos 2000 - as pessoas nunca tinham experienciado uma fórmula tão abrangente que pudesse descrever o astral dos anos noventa e transportá-lo numa nova forma para os anos 00.
 
Posters da coleção Gucci F/W 1999
 
Eu sei exatamente o que Rush se tornou para mim como brilhante fenómeno da cultura pop no ano 2000, tal como as canções de Justin Timberlake e Christina Aguilera, os desfiles de Victoria's Secret, "Sexo e a Cidade" - e ele será lembrado da mesma forma.
 
Nós nos lembramos mais facilmente dos cheiros do que das melodias ou imagens, por isso o Vermelho continuará connosco durante mais tempo.
 
Você usou Rush? Usa-o agora? 
O que é ele para si?
 

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