segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Misturar perfumes: Arte ou Sacrilégio?

por: Serguey Borisov

Upcycle – a reutilização (de objetos ou material de desperdício) realizada de forma a criar um produto de qualidade ou valor superior ao original.
Depois de numa idade mais tenra termos tentado misturar um dos perfumes de nossa mãe com o after shave do papai (com uma distinta nota de base de dentífrico) e conseguirmos um líquido com um cheiro peculiar, recebemos um certo feedback pedagógico de nossos pais, comportámo-nos e seguimos de novo por um caminho de bons meninos. Pelo menos, a maior parte de nós. Mas, nem todos foram ensinados assim. Como por exemplo as pessoas da Península Árabe; elas se habituaram a liberalmente misturar mais de 10 perfumes, fumos e attars diretamente na pele e nas roupas, como lhes ensinaram os seus familiares. Alguns perfumistas seguiram o treino clássico e começaram a criar perfumes a partir de óleos e produtos sintéticos.
E depois há este projeto artístico holandês de Erik Maarten Jeroen Zwaga, que mistura perfumes de diferentes marcas para criar uma nova forma de arte parecida com perfume. (Peço mil desculpas pela palavra tão mal escolhida, é claro, não “misturar perfumes” mas “fazer up-cycle de perfumes”!) Por isso contactei Erik para saber mais sobre suas crenças, métodos e teorias.
Sergey Borisov: Olá Erik, eu achei sua empresa Le Bienaimé (http://www.lebienaime.com/) muito interessante tanto em termos de arte contemporânea como de arte de perfumaria, por isso adoraria colocar-lhe algumas questões.

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Obrigado por suas palavras, e o fato de considerar o meu trabalho como arte contemporânea demonstra que o entende.

Sergey Borisov: Por favor, conte aos nossos leitores como surgiu a ideia de misturar & fazer up-cycling de perfumes?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Nos países do Benelux, sou considerado como o mais importante crítico de perfumes – vale o que vale. Tenho um passado como artista e jornalista – autodidata. Em conjunto com um amigo, escrevi um livro muito comercial sobre perfumes nos anos noventa. Foi minha introdução ao mundo da beleza, do perfume, da arte, do bom-gosto e das ‘maneiras’. Tive a oportunidade de escrever sobre isso em várias revistas holandesas e belgas. O meu estilo: não me deixo impressionar pelo nome ou status, interessa-me mais o que está por detrás do mundo da beleza – e o que o faz girar. O meu fascínio pelos perfumes– que apareceu quando eu era muito novo – nunca desapareceu, por isso comecei a escrever muito sobre isso, o que resultou no meu blogue –  www.geurengoeroe.com – isto pode ser traduzido como ‘o papa dos perfumes’, meu nome internacional.
Erik Maarten Jeroen Zwaga
Sergey Borisov: Porque escolheu o nome Le Bienaimé para a sua empresa? É uma marca de luxo ou de nicho? Qual é a politica dos produtos Le Bienaimé?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Eu chamo-lhe artística, refinada e re-afinada. Le Bienaimé revela o meu sentimento ‘romântico’ em relação ao perfume, e o meu interesse naquilo que um nome bem escolhido em junjunto com um frasco ‘lógico’ e uma história podem fazer. Iso dá asas, um ponto de partida para o fascínio e a maravilha da forte mensagem de beleza. O nome Le Bienaimé transmite este desejo na perfeição, pois era a alcunha de Louis XV e o nome de família do perfumista responsável por uma das melhores fragrâncias de sempre: Quelques Fleurs de Houbigant.
Mas para que Le Bienaimé não fosse uma casa tradicional, cliché e chata, acrescentei uma afirmação ‘polítical’, contemporânea. Eu ‘melhorei’ o slogan socialista de ‘poder para o povo’ para ‘perfume para o povo’. Isto exprime também a minha visão divertida dos negócios – demasiadas marcas se levam demasiado a sério. Eu acrescentei um toque de humor e ‘diversão elegante’.

Sergey Borisov: A noção de up-cycling é uma ideia muito pós-moderna. Como é que chegou a ela, e porque gosta da ideia da reutilização criativa em vez do normal processo da criação de perfume?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Apesar de a escrita ser um processo criativo – esquecido por cada vez mais jornalistas hoje em dia; como jornalista sério é preciso seduzir o leitor de certa forma, pelos pensamentos, pela forma como os expressamos – comecei por sentir falta de trabalhar com as mãos. Por isso me mudei para Bruxelas para uma mudança de cenário, para me ‘retirar’ com minhas ideias. Então, refinei e afinei minha ‘filosofia’ e meus pensamentos sobre a arte e sua função: já tudo foi feito antes, porisso porquê fazer de novo, porquê criar novas coisas quando se pode fazê-lo com ‘artefactos’ existentes. Hoje, na minha opinião, a ‘função’ dos artistas é ‘reordenar’ coisas antigas, colocá-las numa ‘nova’ luz, e fazer as pessoas pensarem sobre isso e sobre as suas idéias pré-concebidas. Um dia decidi fazer isso também com perfumes.

Sergey Borisov: Quais são os seus ingredientes? faz alguma distinção entre EDT, EDP, Extrait de Parfums antes de fazer suas “melanges magiques” (prefere perfumes de nicho ou luxo, ou de massas)? Usa óleos essenciais, absolutos, matérias sintéticas e/ou bases e Attars em seu processo de up-cycling?
                              
Erik Maarten Jeroen Zwaga: Durante os últimos dez anos, a minha atitude em relação a misturar fragrâncias mudou enormemente. Comecei por pura curiosidade: O que acontece se começar a misturar? Muita coisa, foi o que eu descobri! Os meus ingredientes são perfumes normais que eu recebo, ou que compro por metade do preço ou menos em algumas lojas. Também em feiras e em leilões. É muito interessante cheirar o que uma gota de pura essência pode fazer a uma fragrância de mass-market. Por exemplo: combinei um montão de fragrâncias masculinas de verão feitas por Calvin Klein, Givenchy e Paco Rabanne, e o nome para o resultado foi facilmenteencontrado quando cheirei após três meses: Typical Male. Nem bom, nem mau – como a maioria das fragrâncias comerciais. Não fiquei satisfeito. Por isso separei-as e acrescentei um rico patchouli (Nobile 1942) e uma colônia aldeídica muito barata espanhola que me faz lembrar Chanel № 5. O resultado foi maravilhoso: uma abertura forte e ousada que se transforma calmamente numa base amadeirada.

Sergey Borisov: Existem alguns perfumes “maus”, aqueles de que as pessoas não gostam. Alguns deles parecem datados, alguns são estranhos, com um gosto estranho, e outros são desequilibrados. Porque seriam eles bons “ingredientes” para si? Existem ingredientes “maus” para si? Que “ingredientes” consideraria “maus”? É possível fazer algo “bom” a partir de ingredientes “maus”?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Uma das minhas diretrizes é: como é que eu posso melhorar um conceito clássico, mas também me maravilho com a forma como certos ingredientes ainda não foram misturados. Por exemplo, misturei diferentes fragrâncias caras de vetiver. O resultado: apenas vetiver. Por isso chamei-lhe Veryvetyver. Então adicionei gálbano e uma fragrância de figo. Ficou muito diferente por isso. O novo nome é VeryVert.
Fazer algo bom a partir de algo mau é o desafio mais difícil. Tenho sempre em meu ateliê frascos diferentes que eu encho com amostras de 2 ou 3 ml. Num frasco eu acrescento apenas fragrâncias de rosa, em outro fragrâncias orientais e assim por diante. Outros frascos são cheios ap acaso - o que recentemente resultou numa bela e suave composição de sândalo a que chamei Santal Imprévu.
Sergey Borisov: Quais são as suas relações concetuais com as matérias-primas?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Uma pergunta interessante: sinto-me muito atraído pela “batalha” entre chypres clássicos, vintage e modernos. Por isso estou a tentar misturá-los, na esperança de criar o melhor perfume chypre de sempre e irei apresentá-lo num enorme frasco adornado com muitas tampas de perfumes diferentes e vou lhe chamar ‘a mais cara fragrância do mundo’. Isso significa que é apenas um euro mais cara do que o perfume mais caro do mundo no momento. Espero que alguém que compreenda a ideia, um museu ou um amante de arte moderna, o compre.

Sergey Borisov: Mas você gosta? Ama?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Eu acho que tenho uma relação concetual com o perfume em geral – o poder imaginário que ele pode evocar. Para mim, os perfumes são uma forma de comunicação, e com meu trabalho quero mostrar que se pode ter uma perceção diferente do mundo. O perfume pode ser mais do que um belo líquido dentro de um frasco. Um bom nome ou expressão torna um perfume ainda mais interessante, eu acho. Estou trabalhando numa linha para o meu lançamento em Paris chamada P = Perfume. Os nomes invulgares tornam tudo mais interessante, acho: Procure, Pro deo, Prodigal, Profane, Profiligate, Profit, Proforma, Profusion, Pro patria, Prophecy, Propitious, Protocol, Prototype.

Sergey Borisov: Gosta mais de uns “ingredientes” do que de outros? Usa absolutos, óleos, bases ou moléculas em seu processo criativo?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Adoro todos os ingredientes apenas porque cheiram bem ou mal – considero isso como um milagre que a natureza produz (até nos humanos). Um de meus ingredientes favoritos é o gálbano e a ervilha de cheiro. Maioritariamente eu uso perfumes já existentes, e por vezes combino-os com absolutos e óleos. É um processo interessante: com uma gota de óleo essencial é possível melhorar um perfume brega. Ainda estou ocupado com uma fragrância de baunilha que tem de cheirar bruta e suada em vez de um cliché doce como o rum – acrescentei demasiado óleo de coentro. Não é refinada, mas horrorosa de certa forma, e precisa de algum trabalho extra.

Sergey Borisov: Acredita que os “ingredientes” são perfeitos – ou intrinsecamente imperfeitos e precisam ser melhorados?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Depende da qualidade. Por vezes cheiramos jasmim que para mim não é jasmim. O almíscar branco pode ser horrível e por vezes perfeito – depende também da temperatura e da altura do ano em que o cheiramos.

Sergey Borisov: Você usa fragrâncias não-misturadas e gosta de usá-las?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Maioritariamente para analisar fragrâcias para meu blogue de perfumes: www.geurengoeroe.com. Quando se trabalha com tantos perfumes como eu, é fácil uma pessoa se aborrecer. Mas por vezes uma fragrância nos faz pensar de novo porque certos ingredientes de famílias de perfumes resultam tão bem. Tive isso recentemente com o lirio do vale. Ficou na minha cabeça. Por isso agora estou pensando: como será seu cheiro no inverno, será frio e gelado? I isso me trouxe uma outra ideia: as quatro estações… como é que cheira uma flor durante o verão, o outono, o inverno e a primavera. A última fragrância que eu usei sozinha foi Cuir de Mona di Orio – Eu estava indo a um evento social. Colo quei uma overdose, só para ver como as pessoas iriam reagir.

Sergey Borisov: Como é seu processo criativo? Pode descrevê-lo: qual é a ideia que lhe dá início, e como a desenvole? É possível re-criar seus perfumes mais tarde?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Um processo criativo pode ter diferentes inícios. Estou agora desenvolvendo uma nova série chamada ‘Pornification of Society, Pornification of Perfume’. Este é o meu comentário acerca da chata ideia de marketing de que o sexo vende. Em minha perceção ele não vende. Alguns nomes: Come Again?, Fake It, Second Night Stand, Take A Shower First.
Mas também estou criando perfumes a partir de ingredientes. Atualmente uma loja de perfumes vende minha linha ‘Les Eaubades’, concebida es específico para esse espaço. Uma linha ‘comercial’ de minha série de peças únicas Les Eaubades na qual eu presto homenagem às casas clássicas de perfumes usando suas fragrâncias de nicho e mass-market. O trabalho sobre a Hermès chama-se Hermjesty, O da Dior chama-se Riod, o da Guerlain chama-se Guerlainissimo!
Sobre o processo de desenvolvimento: comprei recentemente um extrato de 15 ml de Jicky Guerlain. Teho um amigo que quase que chora quando eu falo sobre o meu novo sacrilégio. Por isso eu pensei: seria interessante tornar fragrâncias clássicas, ‘heritage’ mais ousadas adicionando apenas um pouco de civeta, ou mais contemporâneas apenas acrescentando oud.
Não, não posso recrear meus perfumes. Nunca. É essa a ideia, desfrutar do momento ‘efémero’ de um perfume de uma maneira real e pura.
Sergey Borisov: Alinha os seus “perfumes ingredientes” por seus temas principais, ou por marcas, ou por sensação, para compor um perfume up-cycled apartir deles?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Pormarcas e temas. Para outra loja de perfumes de nicho em Amesterdã fiz ‘A Week In Fragrance’. Para cada dia da semana um perfume que é baseado numa família popular de perfumes. Quinta chama-se Ambracadabra – uma mistura de fragrâncias de âmbar misturada com um toque animálico. Sábado chama-se Green Washing – uma mistura de fragrâncias verdes clássicas. Domingo chama-se PS ou Perfume State – a minha tentativa de recriar o perdido Opium de Yves Saint Laurent.

Sergey Borisov: Alguns de seus perfumes consistem em 51 ou mesmo 72 “ingredientes”! São números enormes! Como consegue compreender o cheiro de tão pesada mistura e melhorá-lo?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Estes perfumes eu não os melhoro o resultado da montagem faz o perfume. Se o frasco está cheio, o perfume está pronto. Descobri que não existem ‘más’ fragrâncias. O resultado de qualquer composição misturada é sempre uma fragrância – você gosta ou não gosta. Conseguimos distinguir isto muito bem nas eau de colognes, alta gama, baixa gama: é sempre cologne. Conheço o dono de uma loja que vende Neroli Portofino de Tom Ford (uma das mais criativas marcas de perfume) como uma moderna 4711 Kolnisch wasser. 

Sergey Borisov: Faz diferença para si usar formulações modernas ou vintage em seus ingredientes?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Depende; por exemplo, para a recriação de Opium eu misturei: Barynia Helena Rubinstein (vintage), Cinnabar Estée Lauder (vintage), Ispahan Yves Rocher (vintage), Jasmin Noir Bvlgari, JHL Aramis, Le Baiser du Dragon Cartier (extrato), Tom Ford Noir, Opium Yves Saint Laurent (extrato vintage), Terracotta Le Parfum Guerlain.
Sergey Borisov: Porque razão reccriou o verdadeiro Opium YSL vintage usando o verdadeiro perfume vintage Opium YSL? Porque não se limita a desfrutar do verdadeiro perfume vintage?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Eu só tinha 10 ml de extrato… por isso precisei de adicionar mais. E este projeto era uma boa forma de descobrir como as notas orientais funcionam. Como funcionariam o patchouli, o âmbar e o cravo juntos? Há uma companhia muito estranha na Holanda que vende cópias de fragrâncias. A cópia de Alien chama-se Strange, o clone de J’Adore se torna I Love It, e o clone de Opium chama-se Opus. Este último é uma boa base (€ 6,99 por 100 ml) para um perfume oriental up-cycle, um patchouli pegajoso e demasiado doce. Além disso: o que mais me entusiasma é saber fazer perfumes a partir de perfumes já existentes. Um cliente que comprou Perfume State (minha versão de Opium) preferiu o meu em relação ao Opium clássico.

Sergey Borisov: Apresenta as suas criações de perfumes up-cycle aos diretores de arte das marcas ou aos criadores de perfumes? Quais foram as reações das marcas/perfumistas às suas criações de perfumes up-cycling?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Sim. Mas muito discretamente. Quero relançar minha marca no próximo ano.
Algumas pessoas das marcas não compreenderam, algumas entenderam sua abordagem artística. O que algumas delas não gostam é o fato de acharem que eu ‘estupro’ as fragrâncias clásicas, elas vêem isso como um insulto; não gostam do fato de eu 'desmistificar' a imagem de ‘conto de fadas’ da indústria. Outras gostam e estão dispostas a ajudar-me a fazer com que a minha marca fique conhecida em Paris.
Sergey Borisov: Qual é a sua política de preços e como está indo o negócio?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Vou mudar tudo. Além de minha linha mais cara (€ 3.00 por 1 ml) quero lançar uma linha com um preço mais amigo do consumidor. Acredito que a minha abordagem em relação ao perfume também é interessante para uma audiência mais generalizada, uma audiência sem grande experiência de perfumes any – 90 %, eu acho – mas que possa ver meus perfumes mais como uma parte do design e lifestyle.  
A maioria dos perfumes são amados e odiados pelas razões erradas. O meu objetivo é também deixar que as pessoas encontrem seu tipo favorito de aroma – longe do marketing e das ferramentas da publicidade. E esta é uma ótima maneira de passar o tempo livre, dá-nos um objetivo. O exemplo perfeito é o do meu cunhado. Apresentei a minha família e amigos muitos perfumes que recebi de diferentes marcas. Ele foi um dos poucos que respondeu com algumas perguntas. Juntos descobrimos que ele gosta de perfumes de couro. Desde então ele é uma pessoa mais feliz, porque como ele disse: todas as manhãs eu acordo e posso escolher entre quatro ou cinco couros – que bela maneira de começar o dia. Recentemente ele me disse que tinha compradoum novo e conseguiu explicar com as palavras certas porque gosta dele. Isto deveria acontecer a toda a gente!
O negócio está indo bem mas pode melhorar. Estamos ainda numa crise por isso as pessoas tendem a jogar pelo seguro. Mas é muito mais divertido quando alguém se deixa seduzir. Recentemente um DJ de Chicago comprou três de minhas fragrâncias em Amesterdã e estava muito entusiasmado. Por causa dele, dois outros americanos compraram alguns perfumes online. Isso dá-me energia.
Mas ainda é muito difícil convencer as lojas de perfumes que a minha linha feita em exclusivo é realmente exclusiva e única. Por exemoplo, se uma loja em São Petersburgo ou Moscou está interessada, eu posso construir uma pequena coleção em torno de um tema russo. Os perfumes são bons, mas os nomes tornam eles ainda mais especiais. Por exemplo, ‘Вешние воды’ (Veshnie vody) - um conto de Turgenev é um belo nome para uma fragrância verde como a primavera.
Interessante é também eu não ter muita cobertura nas revistas: os jornalistas têm medo que isso possa entrar em conflito com os anunciantes. E eles não sabem como os perfumes funcionam. Eles usam palavras como ‘gosto’, ‘belo’, ‘excecional’ sem explicarem o que isso significa de acordo com eles. Eles são os mais interessados na estória, a nova top model, o fotógrafo – o lifestyle blah-blah-blah. E isso é interessante, porque as casas clássicas enfatizam agora cada vez mais o seu lado técnico e sua experiência. Como Geurengoeroe as marcas pedem-me cada vez mais para colocar seus managers a pensar fora da caixa, para promover os perfumes de outra forma – sabedoria combinada com divertimento.
 
Sergey Borisov: Provavelmente já ouviu falar de “millefleurs”, que são os ensaios fragrantes do trabalho criativo de um perfumista para grandes casa de perfumes. Eles frequentemente deitam isso fora, com a ajuda de alguma companhias especializadas em misturas químicas. Poderia sugerir um up-cycling para estas complexas misturas fragrantes?
                  
Erik Maarten Jeroen Zwaga: Sim, sei. Chamo aos meus ‘desperdícios’ millionfleurs. Neste sentido, intriga-me a ideia de melhorar, com ou sem um verdadeiro perfumista, as fragrâncias que não convenceram o cliente. Como aquelas fragrâncias que ‘cheiram a’ que se pode comprar por um décimo do ‘preço oficial’, mas de forma inversa: ‘Feito por xx, melhorado por Le Bienaimé.


Sergey Borisov: Daquilo que sei, o projeto de perfume up-cycling Le Bienaimé faz parte de um projeto maior seu. Pode nos dizer qual é?

Erik Maarten Jeroen Zwaga: Este é o mais pequeno grupo de luxo do mundo (e são as minhas iniciais, pode visitar meu web-site http://www.emjz.com/), em referência ao maior grupo de luxo LVMH. Aqui, eu concebo novas marcas em diferentes campos e elas existirão enquanto eu quiser. Existem porcelanas e cristais up-cycled, roupas e malas, móveis, etc. A marca mais recente a ser adicionada: pode contratar-me como Sir Silly como alternativa a Lady Gaga. Minha regra da casa: tudo tem de ser feito no mundo da arte e do design. Por isso é uma questão de re-arranjar ‘artefatos' para pazer incidir uma nova luz neles, presentá-los de forma diferente e fazer as pessoas pensarem nisso. Não chamo reciclagem mas up-cycle.

Eu teria expressado minha opinião sobre os conceitos de Erik e sobre as fragrâncias em si - contudo, não tive oportunidade de as experimentar. Gostaria de saber a vossa opinião sobre esta abordagem pós-moderna: entra "na mistura" ou não?

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