segunda-feira, 13 de abril de 2015

Frésia: Em Busca da Flor

por: Juliett Ptoyan

Em perfumaria a frésia tem a reputação de ser o patinho feio: aparece na Europa em 1766, tendo agraciado os jardins das cortes francesas e italianas e se tornou num símbolo da juventude e da gentileza. Era também tradicionalmente apresentada no sétimo aniversário de casamento, mas só foi incluida pela primeira vez em composições aromáticas em 1985, quando Bernard Chant da IFF criou Antonia’s Flowers—a primeira fragrância da coleção de Antonia Bellanca-Mahoney, uma florista de East Hampton, Nova Iorque.
A criação de um acorde de frésia nesta fragrância, com a ajuda da tecnologia Headspace, permitiu a este autor abordar a pureza elétrica transmitida por uma flor fresca acabada de cortar. A ideia de Antonia era criar um perfume diferente dos outros perfumes femininos. Uma composição que a fizesse lembrar o seu próprio ateliê e suas flores favoritas.
Após o sucesso de Antonia’s Flowers a frésia começou a aparecer nas fragrâncias de outras casas de other perfume—falaremos delas mais tarde. De momento estamos interessados na seguinte questão: o que fez os perfumistas de todo o mundo esperarem mais de 200 anos para usarem esta flor em suas composições?
Antonia's Flowers é um suave aroma floral com as notas de frésia misturadas com jasmim, magnólia e lírio. Sutis notas frutadas rodeiam estes acordes florais.
Disponível em 50 e 100 ml EDT, 60 ml EDP, perfume de carteira, loção e sabonete. O perfumisa por detrás desta fragrância é Bernard Chant.
A coisa mais complicada ao lidar com a nota de frésia é a ausência do odorante principal, a substância que ajuda a identificar a fonte do perfume. Por exemplo, beta-Damascenone nas rosas ou Acetato de Benzila no jasmim desempenham o papel principal destas substâncias por causa de seu aroma intenso. A frésia é normalmente associada ao Linalool—um Terpenoide, com uma natureza “fresca”, que pode ser conotado com frésia, coentro, lírio do vale e lavanda. Porquê Linalool especificamente? Bom, o cheiro de diferentes variedades de frésia consiste em entre 30% a 90% desta substâmncia (existem 16 variedades desta flor). A correlação de outros componentes (normalmente Limonene, Terpineol, Sabinene, Myrcene) também oscila de acordo com a variedade, essencialmente influenciando todo o aroma.
Para responder a uma pergunta lógica sobre a possibilidade de extração, contactei Matvei Judov, um perito em química de aromas de Moscovo e Viktoria Minya, perfumista. De acordo com eles, é possível extrair alguns componentes aromáticos da frésia, mas isso não faz sentido numa escala industrial.
A razão para isso é que, neste caso, não é produzido muito óleo essencial e é difícil associar o seu cheiro ao aroma das flores naturais, mesmo as cortadas. É por isso que os perfumistas naturais ainda não usam a frésia nas suas composições, e os artistas que trabalham com materiais fragrantes sintéticos têm de criar este acorde vezes sem conta. Outra forma de resolver este problema é usar aromatizantes: foi assim que, por exemplo, a IFF desenvolveu Freesia Fleuriff. Também é possível encontrar na Internet algumas menções a Miraldiacetate, também conhecido como Acetato de Frésia.
Entre os mais populares e frequentemente mencionados perfumes de frésia estão o alegre e fresco Ofresia de Diptyque, o atalcado Freesia de Fragonard, o dândiReflection for Men de Amouage, e o oleoso Musc et Freesia de E.Coudray …
Sinto uma subitamente desregrada e exravagante frésia em Rush de Gucci; ela aparece banhada em raios de sol e uma fresca água de neroli no outrora popularTogether for Her de Oriflame; rodopia num sólido ambiente atalcado em Noa de Cacharel. Além disso, Jersey de Les Exclusifs de Chanel também pode ser nomeado, mas aqui o papel da frésia não é tão importante, apenas suaviza as já gentis tonalidades.
A amarela Freesia refracta é considerada a espécie mais popular desta flor—seu aroma suave, leve, apimentado parece ser “primaveril”. Igualmente com o lírio do vale e a mimosa, parece absorver o ar de Março, tornando-o inesquecível e emocionante, levando à loucura—telle quelle, como nós gostamos. Já agora, qual é o aroma que melhor reflete esta qualidade da frésia—de levantar o astral? Adoraria saber vossa opinião. ☺
PS: Este primeiro artigo, especialmente escrito para o Fragrantica é na verdade muito importante para mim. Gostaria de agradecer a Matvei Judov e Victoria Minya pelo apoio dado e pela ajuda com alguns pormenores e pontos de vista.

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