por: Miguel Matos
Photo by Sandra Raicevic-Petrovic
Eu conheci Celine Verleure, da Olfactive Studio há alguns meses em Paris. Nós nos sentámos na mesma mesa durante o jantar para a apresentação dos FiFi Awards. Ela era uma das pessoas mais divertidas lá e terminámos por partilhar algumas risadas. Ela fala Português perfeito, por isso foi muito confortável conversar com ela. Eu prometi que um dia a entrevistaria e me pareceu o timing perfeito quando estivemos em Florença. Tivemos esta conversa no mesmo dia em que ela estava celebrando três anos de aventura fragrante com sua marca.
Miguel Matos: Você está celebrando hoje, na feira Fragranze, o terceiro aniversário da Olfactive Studio. É sempre incerto quando alguém lança uma marca de perfumes independente. Após três anos, você provou que consegue menter a marca viva...
Celine Verleure: Sim, mas só agora é que eu estou mais relaxada. Após três anos, e tendo agora uma coleção de seis fragrâncias em vez das três iniciais, as pessoas estão mais confiantes de que isso terá uma continuação. No princípio eu não estava segura, pois há muitas marcas que não conseguem chegar longe. Também agora estou em 26 países e tudo está funcionando bem em todo o lado. No primeiro ano não se vende, apenas colocamos os produtos nas lojas e abrimos o negócio em mais países.
Miguel: Quais são seus planos para o futuro agora que está celebrando este aniversário?
Celine: Estou mudando os frascos para o próximo ano, porque eu tenho estado a usar um standard e a Zara começou a usar o mesmo frasco.
Então, eu estou encarando isso de uma forma positiva e decidi mudar. Também, as cores dos perfumes estavam ficando alteradas devido à luz e ao calor. Por exemplo, por vezes Chambre Noireficava verde e por isso tive de mudar os testers. Os próximos frascos serão pretos e não existirão mais problemas como este. Os novos frascos terão a forma de uma câmera Leica. Eu gosto mais e é uma ideia minha. Vou fazer um projeto de crowdfunding no Indiegogo para que as pessoas possam participar na criação do novo frasco e achar um novo molde. Aqueles que participarem poderão receber um frasco assinado antes de todos os outros. Quero lançar os novos frascos em Setembro de 2015. Mas entretanto tenho um novo lançamento na Primavera chamado Panorama. É uma fragrância verde mas não posso dizer mais nada. |
Miguel: Gostaria que falasse desta experiência de ser uma marca nova no mercado de fragrâncias de nicho. Você se sente mais segura agora?
Celine: Me sinto mais segura apenas do ponto de vista do negócio. No início foi muito difícil com o cash flow, tentando lançar sem ter muito dinheiro. Era perigoso, mas agora o negócio corre bem. Apesar disso, me sinto mais insegura quanto à criatividade. Tenho um monte de ideias mas quando eu escolho os perfumes tenho medo. Não sei como explicar. É como se no princípio eu fosse inconsciente e fizesse tudo por intuição. Agora nunca estou segura se é o perfume certo ou não. É engraçado como o negócio está crescendo e eu posso correr mais riscos. Por outro lado, cada risco é maior porque estou produzindo mais frascos, por isso...
Miguel: É um paradoxo!
Celine: Sim, mas agora eu tenho alguns bloggers e perfumistas comigo em Paris que se tornaram amigos e me ajudam. Eles me dão suas opiniões. Os perfumistas me ajudam a ter a certeza de que não há enganos. Os bloggers me ajudam a ter certeza de que não existem criações similares às minhas, pois esse é um grande perigo. Eu tenho Alexis Toublanc, blogger de dr-jicky-and-mister-phoebus.blogspot.com como consultor. Ele tem todos os perfumes em casa, por isso quando eu lhe digo que estou fazendo uma fragrância verde, ele me dá todos os verdes e os cheiramos juntos. Quero fazer isso para que quando você cheirar meus perfumes veja que não têm nada a ver com os outros.
Miguel: Isso é muito interessante. Por exemplo, Histoire de Parfums está lançando uma nova coleção e uma das fragrâncias (1831 Norma Bellini) é, na minha opinião como colecionador vintage, uma cópia exata do vintage L'Aimant da Coty. Fiquei surpreendido com isso!
Celine: Veja, é muito difícil fazer perfumes usáveis que sejam modernos, que vendam e sejam originais. É muito complicado. Você faz uma ideia de quantas marcas estão aqui?
Miguel: Sim, com centenas de âmbares, dezenas de fragrâncias esfumaçadas, milhões de ouds...
Celine: Eu tenho uma fragrância com oud mas eu nunca faria uma fragrância baseada em oud porque toda a gente está fazendo isso. Eu quero ser diferente.
Miguel: Etat Libre d'Orange produziu um flyer dizendo #oudispassé!
Celine: E quanto aos esfumaçados, quero te contar sobre meu perfume esfumaçado,Ombre Indigo. Sabe, é tão estranho. Ele não era esfumaçado no princípio. A perfumista Mylene Alran, da Robertet, ela me deu um aroma de tuberosa e caramelo. E isso está lá dentro! No início era tuberosa com maltol. E eu lhe disse que gostava mas que queria um perfume esfumaçado por isso ela acrescentou fumaça e resinas. Ainda achei demasiado gourmand por isso ela tirou o maltol e então as resinas e fumaças envolveram a tuberosa e a aqueceram, a transformando em fumaça. Mas au ainda consigo cheirar a tuberosa.
Miguel: Sim, talvez porque a tuberosa pode ter um aspeto canforoso...
Celine: E voce sente que tem uma flor.
Miguel: Você participou no workshop Skin aqui na feira Fragranze, trabalhando com o perfumista Thomas Fontaine para recrear o cheiro da pele feminina. É um aroma muito floral e sexy. Planeia lançá-lo na linha Olfactive Studio?
Celine: Não sei. Estou certa de que posso fazer alguma coisa com ele mas não como está. Não tem meu ADN e tem de ser mais moderno.
Miguel: Tem um toque muito erótico.
Celine: E eu quero manter essa parte erótica. Espero que ele consiga fazer isso. Só tenho que pressioná-lo um pouco. Ele quer trabalhar comigo e eu quero ter uma fragrância mais erótica na linha. Mas ainda tenho de ir à Paris Photo em Novembro para encontrar uma boa foto para o perfume, apesar de eu já ter um nome...
Foto da Fragranze: Miguel Matos. Outras imagens: press release.
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