quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A Viagem ao Oriente com Cartier: Les Heures Voyageuses de Cartier


por:
 Serguey Borisov


Cartier continua desenvolvendo dua coleção exclusiva Les Heures de Cartier numa direção inesperada. Esta nova série exclusiva é dedicada às viagens dos irmãos Cartier pelo globo e se chama Les Heures Voyageuses de Cartier. A primeira viagem olfativamente descrita pela perfumista residente da Cartier Mathilde Laurent é uma viagem de Paris ao Médio Oriente.

Alfred Cartier com seus filhos: Pierre, Luis e Jacques.
O número de perfumes equivaçe ao número de irmãos Cartier, como se Jacques, Pierre e Louis Cartier escolhessem seus três Attars durante uma viagem a um mercado oriental de especiarias. Oud & RoseOud & Musc e Oud & Oud são perfumes de base alcoólica, em 75 ml de volume. As peças são caras, como qualquer produto exclusivo Cartier. Tal como nos habituámos ao preço de 200 euro como o valor normal de topo, a barreira subiu de novo: um frasco de Les Heures Voyageuses de Cartier custa 318 euros. (Deverá ser referido que a quantidade é 200 vezes menor do que o preço de uma fragrância pessoal).
Uma vez que consegui obter amostras após grande dificuldade, tenho todo o prazer de descrevê-las a todos os leitores do Fragrantica.
Esta fragrância de oud começa com uma onda doce e especiada de álcool, como um velho brandy e um rum escuro e especiado. A rosa que entra depois é aquela que podemos cheirar em Jean Patou 1000—suave e modesta aoi princípio, depois concentrada numa “terebentina amadeirada.” Não em resina de abeto, mas numa composição de resina para o tratamento de madeira. Não há absolutamente nada de médico, ou semelhante a fortes pensos rápidos impregnados de unguentos neste tipo de oud. Ao invés, um calmo cheiro amadeirado de estábulos e feno, arnês de couro e resina amadeirada. Analisando os aspetos do oud, mais próximos da base, encontrei algumas notas que para mim fizeram lembrar canela e cominhos, cedro e notas secas atalcadas, além de alguma semelhança com o elegante cítrico-atalcado-especiado Eau d'Hermès.
Em conclusão, Oud & Rose é muito confortável—como sapatos feitos à medida. Suave e discreto, mas totalmente confortável e portanto invisível. Sobre a nobreza do clássico par oriental oud e roses: sinto que quem usa Oud & Rose Cartier não contrata um jardineiro para tomar conta de suas rosas, e prefere lidar com elas pessoalmente. Sementes, pás, adubo, solo, cestos de madeira para transplante, roupas enceradas da Barbour para jardinagem e por aí fora. Para este gentleman suas rosas cheiram melhor do que quaisquer outras rosas em todo o mundo—mas sua vida não consiste apenas em rosas. O cheiro da madeira e da terra, ele sente muito mais frequentemente.
O início é de um doce licor de avelã. Descreveria o começo de Oud & Musc como uma nota amadeirada e terrosa de patchouli, com sua áspera doçura de chocolate, e que vem junto com cashmeran e canela quente. 
Oud harmonioso e moderadamente resinoso, como feno como o da fragrância anterior. Está longe do cheiro penetrante e fétido dos tipos de oud animálico de estábulo. Como comparar um jovem Beaujolais com um encorpado, temperado e preservado vinho tinto vintage. Num cenário de patchouli o oud é mais doce como o chocolate e mais culto, mas de alguma forma mais “sujo” e mais próximo do chão. 
Um doce e macio acorde cosmético de almíscar, com um toque de cistus, completa esta fragrância de oud. Eu o acho mais feminino, como uma suave camiseta de caxemira. Estes aromas são chamados de “me abrace” no feminino (como Lancome Tresor) ou na linha masculina (como Tom Ford Oud Wood).
Um impacto duplo é o caminho mais seguro para a vitória. Seja duplos punhos ou duplos ouds—dois é melhor que um. Aqui temos a crème de la crème do licor e do whiskey, rum com especiarias e frutos secos, fumo doce, borracha preta e resina, incenso, âmbar e madeira... 

Toda esta riqueza, após maturada reflexão, sugere que o perfume foi criado para demonstrar duas formas simultâneas de conseguir prazer olfativo a partir do oud. Nomeadamente, ao ensopar as roupas e o cabelo com o fumo de lascas de oud ardendo no carvão, e ao aplicar na pele e no cabelo um pouco do destilado de oud (também chamado de óleo) obtido através de destilação a longo termo em água de uma serradura castanha previamente ensopada em água. 
A riqueza inicial do perfume chega a ser esmagadora—ainda para mais porque Oud & Oud tem concentração de parfum, como as duas outras fragrâncias. Mas em sua base sentimos o claro cheiro de uma combinação dos calmos oud e cistus.
O que há de tão especial nestes Ouds? Porque é que a Cartier quer nos impressionar com este preço tão elevado? A resposta é simples: este preço é uma espécie de garantia para os consumidores de que o óleo de Oud é realmente natural, e tem um grande valor; não é um óleo barato, com aditivos de nagarmota, vetiver, etc., e não é uma base sintética de oud, com gritantes notas medicinais...
Provavelmante, a primeira viagem dos irmãos Cartier ao Oriente (na coleção Les Heures Voyageuses de Cartier) foi associada com um grande número de compradores de jóias do Médio Oriente—uma poderosa tendência nos perfumes orientais nos anos mais recentes. Muito provavelmente, as séries exclusivas serão continuadas até à Índia numa busca pelo perfeito sândalo, jasmim Sambac, ylang-ylang e âmbar. Podemos esperar uma Viagem ao Brasil ou Singapura ou Hong Kong, a capital do negócio de joalheria da Ásia—com notas amadeiradas, frutadas e florais. Londres, Moscovo ou Nova Iorque, também, podem ser as próximas coleções—estas são metrópoles onde a Cartier abriu as suas boutiques no início do século XX.

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