quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Juniper Sling eau de toilette - Penhaligon's London


Nesta provinciana e sulista capital onde moro, mulheres da minha geração deveriam entender de perfumes e homens de bebidas alcoólicas ou drinks.
Entretanto estes dois caminhos  se entrelaçam intimamente em  singular semelhança, que percebi muito além da temporalidade universitária  das aulas de biologia e química.
Se a prática laboratorial de pesquisa  frutificou no encantamento com  óleo de cedro (usado em microscopia), detergentes baratos  banalizaram  óleos de pinho, que no passado supus originados de espécies  como zimbro, pinus ou pinheiros. Essências  que me pareciam notadamente artificiais agressivas e pungentes.
Contudo a fragrância seca, amadeirada e ligeiramente ácida de uma  bebida, cujo principal aromatizante está nas  bagas  ou cones verdes de zimbro, despertou minha atenção para  um aroma  mais atraente e de boa qualidade.


Gin, destilado de  fortíssimo teor alcóolico, diluído na fabricação com água destilada para se adequar ao consumo.
É obtido de cereais e diferenciado em dois grupos de acordo com o processo de aromatização ou enriquecimento de sabor.
Considerado de melhor teor e o  mais requisitado é  gin destilado inúmeras vezes,  na presença de aditivos botânicos que vão de  raízes à  sementes.
Originalmente produzido na Inglaterra, London Dry Gin,  a categoria mais conhecida e vendida  não contém açucar e corantes, mas se  distingue pelo espírito amadeirado e seco.
Este refinamento de sabor se deve a  repetidas destilações com diferentes produtos naturais botânicos.

Tal variedade de gin comumente recebe casca de laranja amarga ou limão, ocasionalmente  cítricos como lima e grapefruit e  coquetel  equilibrado de inúmeras especiarias. Pode conter  raízes de anis, angélica, íris e alcaçuz; casca de canela, cassia, açafrão, coentro, noz-moscada, grãos do paraíso, frankincense...
Whitley e Neil, tradicional casa inglesa, que  persiste  na fabricação de London Dry Gin dentro da Inglaterra, adiciona baobá africano e groselhas!
Blackwood, gin seco do norte da Escócia, ligeiramente esverdeado, apresenta aroma sutil e fresco baseado em vários componentes  da região. Recebe adição de  plantas aquáticas, bagas de zimbro, arcangélica, coentro, limão, casca seca de laranja, casca de cassia, raíz de alcaçuz em pó,  noz-moscada, canela, raíz de lírio, violeta.
Eis o ponto de convergência com  perfumaria!
Impossível não sentir familiaridade com as conhecidas pirâmides olfativas   referenciando  através de  aromas populares  os ativos químicos, botânicos ou animais  utilizados  na composição das fragrâncias.

Para entender Juniper Sling de Penhaligon's comecemos  pelo observação olfatória de gin.
Notaremos assim  que a  elaboração desta eau de toilette corresponde plenamente as expectativas, a proposição da deliciosa campanha, ao  prometer  aroma buliçoso e fresco, na interessante correlação com despreocupada juventude londrina dos anos 20.
Conceitos holísticos afirmam que  personalidade associada à juniper ou zimbro é profundamente espiritual,  perfil que despreza a autoridade, e se deixa guiar pela intuição, que aprecia  se divertir e o faz sem medo, parecendo ocasionalmente imaturo ou irresponsável.
Correlação  exata e pontual com o passado, que serviu  de partida para  a tradicional casa inglesa  trilhar  caminhos contemporâneos.
Experimentando Juniper Sling senti de imediato uma cascata aromática  límpida, afiada  e luminosa, temperada por notas que lembram tanto anis e erva-doce (anetol?) quanto  gengibre in natura, de sumo picante e doce.

Reaplicando, em  outro momento, revelou no acorde inicial  verde, úmida e elegante nota de zimbro.
Assim mimetizou o conceito da  referida geração européia,  embora desprovido  dos excessos comportamentais dos borbulhantes anos 20.
Acorde aromático que precede temperos  quentes e densos, talvez coentro clamando parceria com couro, picante abafado e  com suave animalic.
Senti  a multiplicidade aromática da bebida alcoólica, cuja característica  agrada mais ao olfato do que ao  paladar, rondando discreta, alternando com a  peculiaridade herbal cítrica de zimbro.
Ladeados  por  cedro, incenso e raízes, acorde finalizando em madeiras florais e almiscaradas, embebidas de doçura caramelada.
Caminhos de London Dry Gin e Juniper Sling cruzam a mesma paisagem, cuja  flora é  semelhante, entretanto o fazem em tempos diferentes.
O primeiro, tradicional e originado nos balcãs, que  alternou  fases conturbadas de  glória e de má-fama, encontra na riqueza aromática paralelo com  o segundo,  fundamentado nos conceitos e substâncias da perfumaria moderna.



Sillage comportada, exuberante no topo é  mais discreta  do coração ao drydown, e agradavelmente prolongada sobre a pele.
Na minha experimentação permaneceu ativo  durante muitas horas, percebível  durante movimentos e próximo ao corpo,apesar da natural acomodação olfativa. Refinada e suave.
Juniper Sling é absolutamente confortável e  elegante do princípio ao fim.
Fruto da talentosa atuação de Olivier Cresp acrescenta mais uma oferta  aprazível ao  menu da casa Penhaligon's.
Ignorando a diferença de acordes,  se apresenta  ao meu olfato uma opção tão agradável e relaxante quanto Eau  Parfumée Au The Rouge de Bvlgari, constituindo  verdadeiro "perfume conforto"...


Família Olfativa: Floral amadeirado aromático, 2011
Gênero: Unissex
Perfumista: Olivier Cresp
Rastro: Intenso a moderado
Fixação: Muito Boa
Pirâmide Olfativa:
  • Topo - Canela, licor de laranja, arcangelica ( jacinto-da-índia ou erva-de-espírito santo), bagos de juniper ou zimbro
  • Coração - Cardamomo, couro, pimenta preta, raiz de íris, madeiras
  • Base  - Açucar mascavo, cereja negra, vetiver, ambrox
Os perfumes e demais produtos Penhaligon's podem ser adquiridos num dos sites oficiais da marca:
Japão
Uk e EU
USA e CA


    Arte Irmã - Se fosse um filme...

    VÍDEO: Bright Young Things - cenas do filme.


    Imagens: Montagens com imagens de Elisabeth Casagrande, espécies botânicas da web-wikipedia, cena de Bright Young Things, garrafas de gin inglês.

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