por: Elena Vosnaki
Você tem uma "boca doce?" Se sente atraído pelos aromas que acariciam a língua ou é uma daquelas pessoas que apreciam o picante, o amargo ou o salgado, mais do que o paladar suave e agradável das coisas doces? E sua predileção por doces se estende às fragrâncias?
Mas antes de mais, o que faz uma fragrância ser doce? Que perfumes exibem um caráter doce?
A primeira resposta óbvia que salta à vista seriam as fragrâncias gourmand. Tecnicamente ao serem construídas com base em baunilha e ingredientes doces elas são uma subcategoria da família de fragrâncias orientais. Contudo, falando com perfumistas, percebi que sua qualidade apetitosa é marcadamente diferente dos perfumes nos quais as notas suculentas, tais como pêssego, especiarias ou baunilha, aparecem previamente. Os gourmands evocam sobremesas de forma concreta e identificável. Jessica Simson chegou mesmo a dar aos seus perfumes o nome das sobremesas evocadas na sua primeira linha.
Mas antes de mais, o que faz uma fragrância ser doce? Que perfumes exibem um caráter doce?
A primeira resposta óbvia que salta à vista seriam as fragrâncias gourmand. Tecnicamente ao serem construídas com base em baunilha e ingredientes doces elas são uma subcategoria da família de fragrâncias orientais. Contudo, falando com perfumistas, percebi que sua qualidade apetitosa é marcadamente diferente dos perfumes nos quais as notas suculentas, tais como pêssego, especiarias ou baunilha, aparecem previamente. Os gourmands evocam sobremesas de forma concreta e identificável. Jessica Simson chegou mesmo a dar aos seus perfumes o nome das sobremesas evocadas na sua primeira linha.
Além da evocação instantânea, não dá muito trabalho identificar a nota de algodão doce e açúcar caramelizado em Angel ou a pipoca caramelizada na primeira edição de Miss Dior Cherie, ao passo que os clássicos apenas ciscavam aos prazeres da comida e da bebida que eles supostamente acompanhariam via abstração (por exemplo o delicioso polen melífluo da doce acácia de Farnesiana, a pele de pêssego salpicada de canela de Mitsouko).
Outra resposta óbvia poderia ser as notas frutais, tão populares na atualidade, seja como segmento do frutal floral, ou no acto de equilíbrio do fruitchouli, um gênero moderno de aromas fortes e amadeirados centrados no patchouli que "levantam" o astral cobrindo o topo com bagas e alperces-pêssegos. Naturalmente o patchouli é doce, dando facetas de chocolate.
Outra resposta óbvia poderia ser as notas frutais, tão populares na atualidade, seja como segmento do frutal floral, ou no acto de equilíbrio do fruitchouli, um gênero moderno de aromas fortes e amadeirados centrados no patchouli que "levantam" o astral cobrindo o topo com bagas e alperces-pêssegos. Naturalmente o patchouli é doce, dando facetas de chocolate.
Parece que a doçura é de fato obrigatória na perfumaria moderna, o sine qua non do sucesso comercial como testemunham as vendas de La vie Est Belle, Flowerbombe Prada Candy. Eu vos desafio a descobrir algo tão amargo como—por exemplo—Bandit eau de parfum ou Chanel No.19 eau de toilette na produção dos últimos 15 anos.
Mesmo formas de perfume que não têm a ver com a culinária, tais como a suavidade atalcada dos contemporâneos acordes de "maquilhagem" (como Lipstick Rose, Chloe Love, Flower by Kenzo com sua abundância de iononas) ou a aura soapy aldeídica de aromas de espuma de sabonete, como Narciso Rodriguez Essence, exibem uns cubos de açúcar. O que serve de trampolim para outro pensamento.
E se as notas doces sempre tivessem sido populares, mas simplesmente colocadas em outro contexto?
Pense em Chanel No. 5 ou No. 22 por exemplo. A radiância dos aldeídos alifáticos que dão a ambos os perfumes sua limpeza de "neve seca" projetam bem alto a doçura que é ampliada pelos componentes florais e flanqueada por outros materiais doces tais como o sândalo ou os almíscares! É essencialmente o equilíbrio das matérias animálicas e esfumaçadas na proporção das doces que lhes dá uma superfície polida, o suave e gracioso perfil que aprendemos a apreciar. Como uma apreciada sobremesa de nouvelle cuisine, o açúcar não "queima" a garganta como acontece com os quadrados de chocolate barato.
E se as notas doces sempre tivessem sido populares, mas simplesmente colocadas em outro contexto?
Pense em Chanel No. 5 ou No. 22 por exemplo. A radiância dos aldeídos alifáticos que dão a ambos os perfumes sua limpeza de "neve seca" projetam bem alto a doçura que é ampliada pelos componentes florais e flanqueada por outros materiais doces tais como o sândalo ou os almíscares! É essencialmente o equilíbrio das matérias animálicas e esfumaçadas na proporção das doces que lhes dá uma superfície polida, o suave e gracioso perfil que aprendemos a apreciar. Como uma apreciada sobremesa de nouvelle cuisine, o açúcar não "queima" a garganta como acontece com os quadrados de chocolate barato.
Tomemos outro exemplo, desta vez da perfumaria contemporânea. Ao cheirar Narciso for Her, somos atingidos por um aspeto de flores caramelizadas com flor de laranjeira e osmanthus, seguindo-se uma profunda suavidade de almíscar. E no entanto ao cheirar Narciso não o identificamos como xarope per se. Nem caracterizaríamos Light Blue pour femme como xarope, seu frescor compensando sua cota de açúcar! Apesar disso sua nota de topo é de merengue de limão, esticada na base por via do poderoso âmbar amadeirado. O que me faz chegar ao... âmbar.
A "base" de âmbar (a tradicioal mistura resinosa que envolve coisas como benjoim, estoraque e baunilha) forma a base da família Oriental. A invenção do perfume oriental "moderno" é um tópico olfativo do final do século XIX, tornado possível com a invenção de dois importantes sintéticos: vanilina e cumarina. O acasalamento de ládano/cistus (um material da tradicional planta resinosa, usada desde a antiguidade) e da vanilina produziu aquilo a que nos referimos como o acorde "âmbar". O coração de Obsession ou Ambre Precieux é languidamente suave e suculento, como natas com açúcar.
Por outro lado, a cumarina foi sintetizada a partir da fava tonka, onde aparece em quase pura forma cristalina; tem um cheiro doce e herbáceo, de feno cortado. O que nos leva a outro ponto.
O feno cortado e a grama acabada de cortar são mais dois aromas doces. Pense nisso. Além da clorofila, que surge no ar assim que os cortadores de grama saem da hibernação; o ar é adocicado, quase de néctar, estranhamente fresco e revigorante ao mesmo tempo, com a sensação de renovação enchendo nossos pulmões ao máximo, o que associamos com o prazer, o conforto e o lazer. Faz sentido, não faz?
O que me pareceu particularmente interessante—não, fascinante é a melhor palavra—é como as composições de couro—esses perfumes durões, safados, de dominatrix que são duros como pedras—florescem no calor de forma adocicada, melíflua, de buquê encerado! Com a exceção de Bandit eau de parfum, nota bene, onde o triumvirato naturalmente amargo de gálbano, artemísia e isoquinolinas conspira para dar num dos poucos perfumes decididamente não doces em existência ainda hoje, mas todos os outros couros desde Knize Ten ao menos típico de couro, mais resinoso Messe de Minuit (Etro) e Gomma (also by Etro) ou Mon Cuir (Ramon Monegal) parecem ficar mais doces à medida que a temperatura aumenta. Este último em especial é um camaleão, exibindo um lado animálico muito mais safado quando o ar é mais frio e um coração mais narcótico de flor de laranjeira e flores brancas quando a humidade e o calor na atmosfera são intensos. Quem diria?
Tendo em conta como o leite materno e a comida de bebês têm facetas doces, surge a questão do ovo e da galinha: serão os seres humanos naturalmente programados para instintivamente gostarem do doce, se não puro, então em quantidades equilibradas e doseadas, ou será um longo processo (muito longo realmente) de alimentar o que nos faz responder agradavelmente ao açúcar e aos seus constituintes?
Adoraria saber vossos pensamentos e experiências relacionadas com este assunto em vossos comentários.
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